Pular para o conteúdo principal

Aperitivo: Virtue, The Voidz


Selo: Cult Records, via RCA Records
Gênero: Pop psicodélico, rock de garagem, indie rock, lo fi

Parece com: Gum, Strokes
Ouça: Pyramed of Bones, ALLieNNatioN.
Nossa Avaliação: Mista


The Voidz (Antigo Juinan Casablancas + The Voidz) tem sido considerada uma banda que está vivendo da fama de seu integrante mais famoso, Julian Casablancas, que surgiu na década passada brilhando no The Strokes, banda que ficou conhecida e foi tachada por ser uma das salvadoras do rock millennial. Seu trabalho sempre foi marcado por exageros, mas agora nesse novo trabalho, acertadamente chamado Virtude, essa característica de exagero parece ter sido deixada de lado e está com uma sonoridade mais enxuta e consequentemente mais livre dos arranjos cíclicos pelos quais outrora foram conhecidos.
Virtue ainda traz características de sua antiga banda, o The Strokes, mas nesse trabalho Julian parece estar mais focado em criar algo que possa ser considerado mais próprio dessa encarnação, deixando um pouco para traz as encanações com a banda de outrora, em colaboração com os outros músicos, é claro. Trata-se de um trabalho mais coeso, bem diferente de Human Sadness, a bagunça caótica que era o primeiro álbum da banda.
Na realidade, eles ainda continuam experimentais e hispters, mas isso está de certa forma mais organizado e mais coeso nesse segundo trabalho. As batidas eletrônicas ainda produzem um pop distópico, lo-fi, mas de uma forma mais organizadinha.
Leave My Dreams torna a comparação com The Strokes inevitável, as melodias pegajosas ainda estão lá se casando com as letras sobre relacionamentos frustados, o que pode frustrar o ouvinte no início, mas tendo paciência e adentrando a mente doentia de The Voidz, já podemos nos deparar com a coesão na terceira ou quarta faixa. Ufa, ainda bem.
Pyrameds of Bones por exemplo é uma grata surpresa, na medida em que por mais que lembre The Strokes, ela tem uma introdução lo fi que leva a uma distorção experimental, mas já em seu começo ela já está indie rock e traz também uma letra muito sombria o que se torna uma grata surpresa ao ouvinte. Mas tem uma letra óbvia “Mentiras são simples, a verdade é complexa”. É dançante e tem um refrão pegajoso, o que faz ela ficar em nossa mente.
ALieNNatioN (estilizado) tem uma batida que remete mesmo que não queremos aceitar ao indie dos anos 2000. Ela é mais suave que as suas predecessoras, e traz também uma temática mais introspectiva. Ela desconstrói esse pop para depois ir agrupando o mesmo quando a canção vai se aproximando de seu final. One of the Ones trabalha com essa melodia lo fi de maneira até ir desorientando o seu ouvinte, e traz uma marca registrada de Casablancas que é o seu falsete; e traz como outras canções do álbum o pop psicodélico trabalhado por muitos indies das duas últimas décadas.
All The Wordz are made up também trabalha nessa temática psicodélica e também nos pareceu ser a canção em que mais Julian traz o seu vocal mais bem trabalhado.
Pink Ocean lembra em sua introdução MGMT, é uma das sombrias canções do álbum em que os sintetizadores poderiam ensolará-la mas é justamente o contrário. É uma canção de desespero: “eu quero sair desse mundo/ não quero mais voltar/ consegui amor, não o suficiente.” Essa canção possui batida constante e é encerrada por pointless que traz mais ainda psicodelia ao álbum.
Esse novo trabalho do The Voidz tem de tudo um pouco, mas é mais coeso que o álbum anterior. Flerta com a música lo fi, o indie rock, música eletrônica pop, a psicodelia, traz referencias nostálgicas com o indie de 2000, e tem letras soturnas e de desabafo. Ainda não é uma perfeição mas tendo mais coesão e menos “atirar para tudo que é lado”, podemos dizer que o The Voidz está mais amadurecido nessa fase.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Aperitivo: Papôla, Esperando Sentado, Pagando para Ver

Coletivo pernambucano formado em 2024, composto por Matheus Dália (Dersuzalá) baixo, guitarra, synths, Beró Ferreita (Qampo), guitarrista e vocalista, e Pedro Bettim, na produção, e complementado por Guilherme Calado, teclados, e Saulo Nogueira, guitarra, eles unem em seu álbum de estreia elementos da música psicodélica, musica brasileira anos oitenta, jazz fuzion, funk, new wave, e faz um pop rock bem auspicioso em seu début Esperando Sentado, pagando para Ver, lançado pelo selo Na realidade, eles trazem elementos da city pop com uma pitada de humor irresistível (como na segunda faixa de ESPV, a ótima Baby Mistério com seu riff funkeado) e também apresentam referências a Djavan e Rita Lee, Steely Dan. Eles já vieram chamando a atenção no single Contramão lançado em janeiro de 2025, forte em jazz fusion com seu lindo solo de guitarra. A terceira faixa de ESPV, Coitadolândia, traz uma influência clara de Guilherme Arantes, e fala sobre o fardo de nascermos para estarmos sempre em um...

Aperitivo: Mon Laferte, Femme Fatale

Selo: Sony Music. A cantora chilena, mas radicada no México Mon Laferte está de volta com seu novo trampo, Femme Fatale, depois do extremo sucesso que foi seu album de 2023, Autopoietica, em que ela expandiu sua sonoridade pop alternativa para o trap e o reggeaton, por exemplo, além do jazz, cumbia e da bossa nova, com letras emocionantes e com bastante impacto. Em Femme Fatale, seu novo trampo lançado agora essa semana, ela vem com o velho conceito da mulher sensual e empoderada, vulnerável, melancólica, e também sofisticada. Ela vem mais voltada ás raizes piano e voz dos trabalhos anteriores na primeira faixa, autointitulada, uma canção sobre melancolia e fragilidade. "Não tenho nada a perder, que se acabe o mundo/ Eu queria que me amassem, nada mais" mostra a vulnerabilidade do eulírico, nessa composição em que os arranjos de piano emolduram uma canção bastante confessional. "Sou esperta na arte de sabotar/ tantos anos tentando decifrar a mim mesma" só reforçam...

Aperitivo: The Last Dinner Party, From The Pyre

Selo: Island Records. Parece que a temática religiosa e mística tomou conta dos albuns de indie alternativo nesse ano de 2025, vide trampos de Candelabro, e o futuro da Rosalia, Lux, que será lançado mês que vem. The Last Dinner Party, que conta com as britânicas Abigail Morris, Lizzie Mayland, Emily Roberts, Aurora Nishevci e Georgia Davies traz esse From The Pyre para nossa apreciação auditiva, que mais uma vez agradece, visto que esse album é bastante interessante. Lembra realmente os momentos mais apreciativos de artistas de baroque pop como Florence and The Machine e a atemporal Kate Bush. Elas vem com corais poderosos, riffs intensos, hipnóticos. Não é segredo nenhum que o trampo anterior, Prelude to Ecstasy já trazia camadas e texturas musicais bem auspiciosas, mas nessa sequência elas verdadeiramente transcenderam. Fruto de uma mixagem e de uma produção mais apurada e mais direcionada a soar como canção chamber e folclórica. Para esse novo trampo, saiu a produção do début, q...