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Blackstar, David Bowie

08 de Janeiro de 2016 Esse álbum foi lançado dois dias antes de seu óbito, mas precisamente na sua data de aniversário, ocasionado por um câncer agressivo. Mas não teria uma maneira mais digna e mais encantadora do camaleão do rock, e também ator, pintor, produtor, e com noções de estética (a filosofia da arte) se despedir de nós. O álbum é obscuro, com faixas experimentais, e traz à baila umas das mais belas letras já produzidas pelo astro inglês. Parecia que sabia que aqueles eram os seus últimos momentos. Na faixa titulo, ele, por exemplo, questiona se os anjos podem vir a falhar. São letras feitas em cima de questões existencialistas que traduzem o momento de extrema penúria em que ele se encontrava; sempre um visionário, pode se dizer que Bowie sempre questionou as questões que a certas pessoas poderia passar em branco: como o sofrimento nos amadurece, e nos torna mais fortes e resistentes. Esse artista era provido de uma louca genialidade vista como poucas no mundo da cultura pop. São canções com um toque de blues, e inspirado no rock norte americano que sempre foi uma marca registrada desse grande artista. A primeira faixa é totalmente experimental, onde há fusão de elementos de art rock, jazz á “sua” musica. Há também a presença de cantos gregorianos e durante quase dez minutos temos a impressão de estarmos imersos em um mundo claustofóbico que traduz em acordes o desespero que vivia o deus da art rock. Há uma “homenagem” a uma mulher de vida não muito convencional, na faixa Tis a Pity She Was a Whore”, em que há elementos da dramaturgia de John Ford, em que o saxofonista Donny McCaslin faz uma participação brilhante. Lazarus também aponta para o jazz contemporâneo, e seria uma espécie de inscrição na lápide do “futuro finado” . O jazz continua em Sue, (or In a Season of a Crime) mais de forma ainda mais acida, em que fala da relação com essa garota de uma forma ainda mais trivial, mas ainda assim pomposa. Em Girl Loves Me, há um apelo ao rock progressivo dos anos 70. Apesar de ter um experimentalismo que traz o art rock de volta ao álbum, tendo sido deixado um pouco de lado por causa do prog rock... havendo ainda intertextualidade com a literatura futurística dos anos 70. Mas tão sombria e soturna quanto as outras. Dollar Days, também é jazzista, e conta com a presença do saxofonista Donny Mc Caslin, e uma letras que traduziam exatamente o que sabemos só agora, como: “Estou morrendo, e tento...” soando como um verdadeiro canto do cisne e desfecha o tema de saudosismo e despedida com I can’t give everything away, de tom confessional em que decide manter até o desfecho de sua vida essa aura de mistério que permeou toda a sua carreira, como quem dizia: eu não posso dar o meu braço a torcer. Um retrato lindo e sombrio de um verdadeiro artista.

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