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Aperitivo: Kassin, Relax


Selo: Lab 344
Gênero: MPB, Indie Pop, Alternativo.
Boas: O anestesista, Seria o Donut
Nossa Avaliação: Positiva

Kassin é tido na atualidade como um dos mais versáteis e competentes produtores musicais da atualidade musical brasileira. Foi responsável por exemplo pela bíblia indie Ventura de Los Hermanos E “Sim” de Vanessa da Matta e traz como uma marca sua como produtor poder lidar com as referências disponibilizadas pelos artistas com os quais trabalha e fazer algo consistente disso. Agora, em seu álbum autoral vamos ver se ele lida bem com isso. O que podemos perceber é um misto de Pop, Jovem Guarda, mas não se esquecendo do Soul e do Indie. Elementos presentes em maior número nesse seu trabalho autoral, além de outros em menor escala.
Em Relax, ele traz em arranjos e melodias influências da jovem guarda e do pop rock sessentista. O jazz vindo de encontro ao lúdico e ao divertido. Além de referências setentistas que podem ser relacionadas ao Clube da Esquina, por exemplo. O anestesista traz um quê das obras de gente como Chico Buarque, com influência da Bossa Nova, mas descambando em referências de atuais bandas alternativas do interior do Brasil, e também críticas à situação do pais, algo bem comum na nossa atualidade. “A vida desse pobre moribundo o que as pessoas acham do golpe de Brasilia” traz bem isso em voga, no corpo da canção.
“Estrada” traz um pop melódico com um verdadeiro desabafo no inicio da letra “Sei que estou na estrada errada/ Mas não posso fazer nada” e podemos, se tivermos um ouvidinho mais atento perceber a tentativa de fazer algo psicodélico, reminiscência dos anos sessenta; Seria o Donut continua essa vibe psicodélica e tem uma letra bem confessional. E sobre como nos entregar à rotina pode ser desgastante. “Vamos segurando os bancos (...) Tudo pouco a pouco mata/ logo logo as veias entopem.”
Podemos dizer que o excesso de referências sonoras de Kassin só lhe fazem bem, a instrumentação está muito bem construída e a sua voz se casa muito bem com os loops referentes a MPB e o Pop. Os arranjos parecem ser muito bem construídos também. O álbum consegue nos levar a uma nostalgia, e isso é conseguido graças aos arranjos e instrumentação que nos remete ao auge da Bossanova.
“A paisagem Morta” também se trata de uma canção nostálgica e reflexiva como a maioria das músicas do álbum e é otimista. Relax segue também essa vibe, mas traz o otimismo de quem pode por um momento se desligar do caos e se entregar a um momento de felicidade e de sossego.
Podemos chegar à conclusão que depois de anos produzindo e checando quais seriam os excessos de referências que poderiam ser utilizados na feitura de um álbum alheio, Kassin está pronto para usar essas referências com as quais trabalhou a vida inteira como produtor ao seu favor, mesclando-as as suas aspirações e /ou sentimentos. E pode trabalhar nesse álbum como se fosse uma terceira pessoa, mesmo que esse uso solo de instrumentos em muitos momentos não tenha coincidido com as suas impressões do mundo. Se expôs aqui, mas sentimos que em um trabalho vindouro, possa se aprofundar mais ainda nessa tentativa de misturar a sua experiência como produtor/ e ou instrumentista e como pessoa aos seus sentimentos e desejos.

Boas: O anestesista, Seria o Donut
Nossa Avaliação: Positiva

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