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Aperitivo: Urias, Carranca

Selo: Independente. Gênero: pop, r&b Carranca, segundo a mitologia africana, é uma escultura de madeira para espantar os maus espiritos e manter a residência segura. É esse o nome do album de Urias, cantora de r&b e rap mineira que chegou em 07 de outrubro com esse album rico em sonoridade, porque traz jazz, soul, funk e também muita ancestralidade, canções sobre empoderamento feminino, criticas á intolerância religiosa, ao materialismo e a produção em massa de arte, em uma mistura irresistível de letras fortes e sonoridade urbana e de protesto, mas também com temas universalizantes. Em Carranca, ela conta mais uma vez com a parceria com os produtores Rodrigo Gorky e Maffalda, mas ela transcende e abandona o estilo de seu trampo anterior e viaja em novas sonoridades nesse registro de 2025. Traz no corpo do album referencias da mitologia africana reflexões sobre liberdade e resistência. O album começa com a declamação de "Liberdade", que já traz a tônica de empoderamento e critica social que vai permear todo o album, que claramente teve influencia do Caju, de Liniker, que está concorrendo ás categorias principais do Grammy latino. Logo em seguida aparece o coro de vozes e batidas minimalistas de " Deus" parceria com Criolo, "Eu cheguei, não vi ninguém na entrada, eram sete instrumentos, sete dias, sete pragas" nesse verso Urias já mostra o messianismo, conceito que vai ser abordado ao longo desse seu trampo. Além disso na mesma canção ela relata sobre a hipocrisia da religião, por ser tão intolerante com pessoas trans "Roubaram Deus, é é por isso que eu não amo mais" "Rezar para Deus/ seu Deus é quem/ Voce matou e disse amém", contra o religiosismo hipocrita tão em voga nos dias atuais. Em "Quando a fonte secar" a critica é contra o sistema materialista em que estamos imersos, de como somos insignificantes quando estamos sem recursos materiais. "Esse som do meu tempo/ sem dinheiro/ eu não faço nada mais/ quando a fonte secar, todos vão saber" com batidas minimalistas e solo de saxofone. Venus Noir fala sobre a objetificação negra. " Na porta do hotel, eu me pergunto se escutaram o que é meu/ percebo que ninguém prestou atenção/ mas e tudo pro povo grammy um trofeu" pode ser interpretado como uma critica á industria musical, em que quase tudo é produzido como elementos em massa, sem nenhum tipo de preocupação artistica e somente para atingir um publico alvo. Vontade de Voar remonta a uma MPB anos 70, mais especificamente a MPB baiana. E remonta a um sentimento de voar livre e de como a liberdade doi é é inalcançável em algumas tentativas... Oração (Interlúdio) parceria com Marcinha do Corintho, há o verso: "Deus afaste a praga do meu povo, e nos permita conhecer o fim da a estação mortal/ depois da qual tudo viverá novamente" nos prepara para Etiópia, que aparece como uma Canaã, como uma terra prometida em que é esperada a redenção desse estágio de expiação que é retratado na primeira metade do album. Etiópia é a parte dos primordios, onde viviamos em harmonia, na lei do amor e sem diferenças de raças. Como ocorre na poesia indigenista do sec XIX, em que a literatura se voltou a um mundo idilico, pré colombiano, para mostrar como vivíamos em harmonia antes da chegada do colonizador. No caso de Urias, á Africa em que vivíamos antes de sermos escravizados, uma espécie de El Dorado de harmonia e sem injustiças. "Encontrei, minha etiópia/ caminho de volta/ pra esbanjar/ (..) "Vem e me leva para casa" Ao longo das 14 faixas, e mais os interlúdios, o ouvinte é levado por uma jornada de surrealismo afro e também elementos que remotam á resistência e ancestralidade, se afastando bastante dos primeiros trabalhos de Urias. E na faixa derradeira, "Voz do Brasil" ela traz uma critica á visão hedonista do Brasil, sampleando a opera Guarani, de Carlos Gomes, que é tocada no programa radiofónico do governo brasileiro, mostrando para o ouvinte que nem tudo aqui são flores e que ainda temos muito pelo que lutar. Participam do album de Urias como musicos convidaddos: Criolo em Deus, Major Rd em Voz do Brasil, Marcinha do Corinto nos interlúdios, e o musico baiano Giovanni Cidreira em Herança. Highlights: Deus, Herança, Etiópia, Voz do Brasil
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