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Um ano de Songs of a Lost World, o magnífico comeback do The Cure

Há um ano, mais precisamente no dia 01 de novembro de 2024, The Cure, a lendária banda de pos punk liderada por Robert Smith, que ajudou a moldar o rock gótico como o conhecemos hoje, lançava, depois de um jejum de 16 anos, o sucessor de 4.13 Dream, o incrível Songs of a Lost Wold, album que veio deixando todo crítico de música e fã mesmerizado, porque remetia aos momentos mais brilhantes do indefectível album deles de 1989, Disintegration, instrumentalmente, mas com canções que dialogam com o momento presente da vida de Robert (por que não, com a nossa também). O trampo trazia em seu conceito reflexões sobre envelhecimento, perda, luto e também uma sonoridade soturna, melancólica, o que torna uma obra grandiosa, mas coesa e sem nenhum tipo de exagero instrumental. Com musicos da era classica dialogando com os da era mais recente, Jason Cooper (a partir dos anos 90, sendo que a Cure iniciou ainda nos anos
70 ) de forma magistral. Se esse for o último trabalho deles, será fantástico, por que as músicas se organizam como uma carta de despedida, e refletem sobre um mundo ao qual não temos mais acesso, o fim de tudo o que conhecemos hoje, o que mostra mais ainda o carater nostálgico do álbum. Similar a trabalhos como Blackstar de Bowie, o album mostra um indivíduo desajustado que está dividido entre o mundo nostálgico em que viveu e o mundo do que há de vir. "Tudo já se foi/ Não sobrou nada do que eu amava" Endsong, a canção de encerramento. Em I Cant Never Say Goodbye, os versos trazem um desnudamento de Robert Smith sobre o falecimento de seu irmão, Richard. Essa canção poderia facilmente se relacionar com And Nothing is forever, em que Smith reflete sobre mortalidade, e a belíssima All I ever Am, a dificuldade de se mostrar presente na atualidade. Similar a Disintegration, as canções e suas respectivas sonoridades são paisagísticas, cheias de texturas e de camadas. E os versos com uma fluidez que são típicas das composições contemporâneas. Canções que trazem o lirismo do Cure de 1980s mas que em nenhum momento deixam de dialogar com o nosso presente momento. O album mostra também entrosamento perfeito, visto pelo lado instrumental, da linha de baixo de Simon Gallup se casando com a bateria de Cooper. isso observado pela resenha critica da Pitchfork, o que espelha na lírica essa relação do mundo clássico com o mundo mais recente. Esse trabalho mostra que apesar do momento de indecisão do Cure nos anos 2000, eles voltaram ao epico gotico minimalista que os tornou uma das mais apreciáveis bandas de todos os tempos.

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